Perfeccionismo: entenda quando ele merece atenção
Em excesso, esse traço da personalidade pode trazer problemas para a saúde mental de qualquer pessoa. Saiba quando ele é motivo de preocupação e conheça o tratamento ideal para ter qualidade de vida.
Não ter a nota esperada em um trabalho de faculdade ou em outros estudos. Não atingir o alto padrão que a própria pessoa se impôs em algum projeto do trabalho. Buscar a perfeição do corpo, dos resultados e da postura. Será que o perfeccionismo é defeito ou realmente uma qualidade? Visto por muitos como sinal de excelência, esse traço da personalidade merece atenção, já que, em excesso, pode prejudicar a saúde mental de qualquer indivíduo.
O que é uma pessoa perfeccionista?
O perfeccionismo é descrito por muitos profissionais como a necessidade de estabelecer padrões elevados e rígidos para si mesmo buscando atingir um ideal. É o que explica o psicólogo Daniel Moniz Dugain (CRP 06/135935).
“A pessoa perfeccionista cria uma série de requisitos de conduta própria e faz constantes autoavaliações. Sua autocrítica é rigorosa, frequentemente colocando-se para baixo e incentivando a culpa, então nunca se satisfaz com seu próprio desempenho”, conta.
Causas
Depois de entender o conceito do perfeccionismo é importante se atentar aos sinais que ele dá. Quanto antes a pessoa perceber que essa característica está exagerada e precisa de cuidados, será melhor para buscar ajuda e melhorar a qualidade de vida. Fique atento aos seguintes pontos:
- Medo de desaprovação, insegurança e busca por agradar outros;
- Levar uma crítica, com frequência, para o lado pessoal e ficar na defensiva;
- Alto nível de exigência consigo, sentindo que nunca atinge o objetivo totalmente;
- Não gostar de suas próprias falhas, sentindo culpa e vergonha diante de erros;
- Problemas de saúde psicológica, como transtorno de ansiedade generalizada e depressão.
Perfeccionismo excessivo e transtornos mentais
É aí que o perfeccionismo excessivo pode ser motivo para preocupação. Uma TAG (transtorno de ansiedade generalizada) ou uma depressão podem começar dessa busca exagerada pela perfeição. “Esses transtornos podem servir de gatilho para o indivíduo, em uma tentativa fantasiosa de autocontrole e levá-lo a apresentar comportamentos perfeccionistas”, diz o psicólogo.
Isso acontece, porque muitas vezes essas pessoas têm alto desempenho, só que esse sucesso vem acompanhado de infelicidade e insatisfação pessoais. A necessidade excessiva de tentar alcançar a perfeição em tudo o que se faz, cria na mente humana uma cobrança exagerada, que vem com dificuldades de lidar com críticas e altos padrões para realizações pessoais. Por isso, muitas vezes traz aquela sensação de “nunca é o suficiente”.
“O perfeccionismo passa a ser preocupante nesse momento em que ele traz uma série de angústias, que afetam o indivíduo em sua rotina diária, atrapalhando por exemplo seu desempenho no trabalho ou nas relações interpessoais”, afirma Daniel.
Existem ainda pessoas que associam esse traço da personalidade ao TOC. Mas há diferenças, o que é importante pontuar. “Pessoas com Transtorno da Personalidade Obsessiva-compulsiva geralmente não vão ver seu perfeccionismo e rigidez como um problema. Na verdade, consideram como necessário e lógico. Enquanto isso, o perfeccionista espera perfeição de outros, bem como de si mesmo. Além de também sofrer com isso quando não acontece da maneira esperada”, compara.
Existe tratamento para o perfeccionismo?
Quando o perfeccionismo começa a afetar a vida da pessoa em um nível mais pessoal, como os seus relacionamentos e trabalho, chegou a hora de buscar ajuda. Segundo Daniel, o mais indicado é primeiro recorrer a um profissional da área de psicologia e começar a fazer psicoterapia.
Esse tratamento irá ajudar o perfeccionista a amenizar esse traço da personalidade. Como ele pode ser um gatilho para uma ansiedade generalizada ou uma depressão, esse tipo de acompanhamento acaba ajudando também a cuidar desses casos.
Outra coisa que pode auxiliar, de acordo com o psicólogo, é o indivíduo fazer de propósito coisas de maneira “imperfeita”, com o objetivo de perceber que nada irá acontecer a si mesmo e com o ambiente em que ele está. “Arrumar a cama sem esticar tanto o lençol ou lavar apenas uma parte da louça são algumas dicas nesse sentido”, orienta.
Os exemplos dados por Daniel mostram que a psicoterapia ajuda os perfeccionistas a conviver melhor com essa característica. Afinal, um profissional dará a orientação necessária ao paciente, para que ele lide melhor com isso no dia a dia e não tenha sua qualidade de vida prejudicada.
Anota aí!
O perfeccionista pode escrever em um papel e deixar a seguinte frase sempre à mostra: “a perfeição não existe”. Estipular prazos e fazer cronogramas ajuda muito na rotina do trabalho, assim como a pessoa saber que dá o seu melhor, sem medo de receber críticas construtivas. Nas relações pessoais, é essencial estar aberto a ouvir o que os próximos pensam e como eles acham que pode melhorar no dia a dia. É necessário parar e analisar os contratempos e problemas que essa característica está trazendo ao hoje. Por isso, quem se identificar com esse assunto e notar que está atrapalhando a qualidade de vida, deve também conversar com um psicólogo.