Com alguns cuidados simples, a prática é segura em todas as idades e é uma medida importante para prevenir o desencadeamento de crises alérgicas, como a rinite, e para promover limpeza e alívio em problemas agudos, como a sinusite

Método que ganhou popularidade na internet há algum tempo, com diversos vídeos tutoriais de como realizá-lo, a lavagem nasal é uma prática milenar, realizada originalmente por hindus, utilizando um dispositivo de cerâmica chamado Lota ― utensílio similar a uma pequena chaleira de bico alongado. Com o auxílio do Lota colocava-se água morna com sal numa narina, com certa pressão, até sair do outro lado. Atualmente, há vários modelos de recipientes que podem ser usados, com diferentes variações de volume e pressão na liberação do conteúdo, de acordo com o objetivo da lavagem.

Segundo Larissa Fabbri Mendes, otorrinolaringologista, o primeiro e mais claro objetivo da lavagem nasal é a limpeza mecânica. “Quando usada no dia a dia, remove partículas que poderiam desencadear crises alérgicas, sendo útil para prevenir a rinite. Já em casos de sinusite, a prática ajuda a remover mediadores inflamatórios e nos primeiros dias, quando feita em alto volume, ajuda a reduzir a intensidade e duração dos sintomas. A lavagem nasal diária também pode reduzir o número de infecções de vias aéreas superiores em crianças.

A prática é segura em todas as idades?

A resposta é sim, no entanto, é preciso ficar atento a alguns pontos, principalmente nos primeiros anos de vida. Isso porque lavagem nasal em alto volume não é indicada para bebês, pois há um grande risco de engasgo e sufocamento. Portanto, antes de 1 ano, o ideal é usar dispositivos apropriados para a faixa etária, como sprays e aerossóis próprios para a idade. 

Após 1 ano a lavagem com maior volume está liberada, porém a técnica deve ser adequada a fim de evitar engasgos e acidentes. “Para essa faixa etária, o método em alto volume só é indicado em quadros respiratórios agudos, para remover a secreção nasal. Já para um tratamento rotineiro, pode ser usado baixo volume, onde pode-se observar benefícios, principalmente quando é realizado duas vezes ao dia”, explica Larissa.

Passo a passo para realizar a lavagem nasal

Primeiro, é importante definir o objetivo da prática: se é uma lavagem de rotina, preventiva; ou se há sintomas nasais, como secreção e obstrução nasal. Ter isso bem determinado direciona a pessoa na escolha do dispositivo correto, com maior ou menor volume. Outro ponto é em relação a escolha da substância que será utilizada. Segundo a otorrinolaringologista, o produto mais usado é o soro fisiológico 0,9%, que pode ser comprado pronto em farmácias ou pode ser preparado em casa, com uma mistura de água filtrada, sal e bicarbonato de sódio em quantidades apropriadas.

É importante ressaltar que o conteúdo que será colocado no dispositivo escolhido deve estar em temperatura ambiente e nunca deve ser usado gelado. Em dias mais frios, o produto pode ser levemente aquecido, para que fique morno. “Esse aquecimento nunca deve ser feito em recipientes plásticos, pois pode haver a liberação de substâncias tóxicas. Assim, é indicado o uso de um copo de vidro”, orienta Larissa.

Para as lavagens feitas com dispositivos de alto volume ― como o Lota, garrafas e seringas ―, onde o conteúdo entra por uma narina e sai pela outra, o ideal é ficar em pé em frente a uma pia, para que o conteúdo escoe diretamente nela. Neste caso, a pessoa deve inclinar ligeiramente a cabeça para frente e aplicar o soro numa narina com baixa pressão, até que comece a sair pela outra narina. “O procedimento nunca deve ser feito com alta pressão, para evitar que o soro vá para os ouvidos. Depois da realização em uma narina, a pessoa deve fazer na outra. O conteúdo que sobrar no dispositivo deve ser desprezado, para evitar contaminação”, explica a otorrinolaringologista.

Já no caso dos dispositivos de baixo volume ― como conta-gotas, sprays e aerossóis ― a cabeça deve estar ligeiramente inclinada para cima, para o conteúdo se espalhe até o fundo da cavidade nasal e vá para a garganta. Nestes casos não há problema em engolir o conteúdo. Outro ponto é que não há necessidade descartar o produto após o uso, pois esses frascos são feitos com tecnologia eu impedem a entrada de microrganismos, como bactérias e fungos.

Lavagem nasal e descongestionantes: qual a diferença?

É importante deixar claro que não há nenhum tipo de semelhança entre uma prática e outra. A lavagem nasal com soro fisiológico 0,9% ― ou solução equivalente ― tem os benefícios já citados nesta matéria e não causa nenhum tipo de prejuízo à mucosa nasal. Já os descongestionantes nasais são, normalmente, substâncias vasoconstritoras que, de imediato, causam uma grande sensação de alívio pela redução quase que imediata do tamanho dos cornetos ― tecido que fica dentro do nariz. 

“Porém esses medicamentos causam o ‘efeito rebote’, ou seja, quando acaba sua ação, em vez de o tamanho do corneto voltar ao que era antes, acaba dobrando de tamanho o que, com o tempo, causa dependência. Além disso, essa medicação diminui o batimento ciliar da mucosa nasal e altera a estrutura do epitélio nasal, provocando uma inflamação crônica conhecida como rinite medicamentosa, com secreção nasal e sintomas similares ao da rinite alérgica”, alerta Larissa.

Outros cuidados para uma prática segura

A otorrinolaringologista ressalta que nunca se deve usar água pura para a realização da lavagem nasal, pois ela causará irritação e, possivelmente, inflamação da mucosa nasal. A melhor opção é o soro fisiológico 0,9% ou solução preparada com composição próxima a do soro. Hoje em dia existem outras opções de soro, como o soro hipertônico a 2% ou 3%, que pode ser usado em casos de aumento de adenoide ou sinusite crônica; e o soro com xilitol, que ajuda impedir a adesão de bactérias à mucosa nasal, sendo usado principalmente em infecções bacterianas de repetição. Assim, para uma indicação precisa e individualizada, o ideal é que um otorrinolaringologista seja consultado.

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