Uma das passagens mais famosas da literatura está no primeiro livro da obra Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust. O personagem principal molha madeleines no chá e, ao comê-las, tem sua mente transportada para outro tempo. Por alguns instantes, ele experimenta ser novamente a criança que foi um dia, quando saboreou essa combinação pela primeira vez.

Não é raro que isso aconteça com a gente também. A comida da mãe, da avó ou da merenda da escola ficam marcadas pra sempre na nossa memória. E elas trazem consigo momentos especiais, como os dias em que a família toda sentava à mesa em um domingo ou então as tardes na casa de uma pessoa querida. Existe uma explicação científica para isso: o cheiro é dos sentidos mais primitivos. “Quando sentimos o cheiro de alguma coisa, isso vai direto para o cérebro, sem intermediários”, explica o médico psiquiatra e nutrólogo, Dr. Frederico Porto.

O próprio médico conta uma lembrança do dia em que foi visitar uma pessoa que não via há trinta anos. “Lembrei que, na minha infância, essa pessoa tinha um carro em que eu gostava muito de passear. Quando comentei, ele me levou até o carro — era o mesmo carro, todo preservado. Quando entrei e sentei no banco de couro, senti aquele cheiro e me lembrei imediatamente que a esposa dele costumava me dar umas balas que ela tinha no carro. Achei que estivesse delirando, mas era isso mesmo — voltei no tempo e o gosto de cereja invadiu minha boca no mesmo instante.”

De fato, o sabor tem memória. A memória olfativa, intimamente ligada ao paladar, é a mais poderosa de todas. Isso quer dizer que os laços que criamos ao compartilhar uma refeição podem durar vidas inteiras. Pensando nisso, capriche no jantar de hoje! Coloque aquele tempero especial e aposte nos melhores ingredientes. Não precisa ser nada cheio de luxo — precisa apenas ser saboreado ao lado de quem você ama.

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