O que fazer quando a criança não quer comer?
A boa relação com a comida na infância pode influenciar o futuro do seu filho. Saiba como colaborar para que seu pequeno se alimente bem e faça escolhas alimentares melhores durante toda a vida.
O que fazer quando seu filho não quer comer? É verdade que uma alimentação saudável é essencial para o crescimento e o desenvolvimento dos pequenos. E nem sempre é fácil incentivar a criança a aceitar os melhores alimentos. Pode ser que ela resista, então o item mais importante dessa receita é ter paciência, pois a forma de lidar com esse cenário faz toda a diferença na construção do hábito alimentar.
“Se a hora da refeição se tornar um momento traumático para a criança, será muito difícil fazê-la comer de forma saudável e agradável. Por outro lado, quando as refeições tendem a ser ocasiões mais leves, isso pode resultar futuramente em uma alimentação adequada com hábitos saudáveis”, afirma Samara Bertin Suguitani Santello, especialista em terapia intensiva pediátrica.
Então, quando a criança não quer comer, a primeira dica é que os pais ou cuidadores criem um ambiente positivo e agradável em torno da alimentação, para depois incentivar escolhas alimentares mais saudáveis. Isso porque, segundo a especialista, a hora da refeição é um momento de aprendizado.
“Observar os outros familiares se alimentando, sentir o cheiro dos alimentos e conhecer as texturas são coisas que podem ajudar a aumentar o apetite e a aceitação alimentar da criança. Além disso, se ela se serve sozinha e come sem ajuda, começa a aceitar os alimentos espontaneamente, mesmo que não for da primeira vez”, explica.
Alimentação desejável para crianças
Mas, afinal, quando a exposição infantil aos alimentos começa? O Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS) incentivam o aleitamento materno exclusivo durante os primeiros seis meses de vida. Portanto, nesse período, não é necessário introduzir outro alimento, nem mesmo água ou chá. Já as fórmulas devem ser usadas apenas sob prescrição médica.
“Após os seis meses, deve-se iniciar a alimentação complementar no almoço e no jantar com as papas que levam misturas de cereais ou tubérculos (milho, arroz, batata e mandioca), leguminosas (feijão, ervilha, soja e grão-de bico), proteína animal e hortaliças (verduras e legumes)”, diz Samara.
Segundo ela, é importante não bater a comida no liquidificador e nem passar a papa na peneira. Deve-se apenas amassar, cortar ou desfiar. “Dê frutas amassadas ou raspadas nos intervalos, ao invés de sucos, e mantenha o aleitamento materno, se possível, até os dois anos de idade. Também ofereça água filtrada nos intervalos”, enumera a especialista.
A partir de um ano de idade, a criança começa a se alimentar com a mesma refeição da família, adequando os alimentos e sua consistência conforme necessário. “A partir de dois anos, ela deve receber de cinco a seis refeições por dia, sendo que o grau de aceitação alimentar varia entre uma e outra, então o pequeno não precisa necessariamente comer tudo o que está no prato”, conta.
Meu filho não quer comer. Quando é motivo de preocupação?
Se a criança não precisa comer tudo que está no prato, quando é necessário se preocupar? Entenda: a alimentação ideal está mais relacionada com a qualidade dos alimentos que o pequeno ingere do que com a quantidade. Isso acontece porque a sensação de saciedade varia de um para outro, assim como a aceitação alimentar.
Então, a resposta é: fique atento ao comportamento do pequeno. De acordo com a especialista, o comportamento alimentar varia e pode depender inclusive de fatores psicológicos. Em alguns casos, por exemplo, as crianças podem perder o apetite ou se recusar a comer quando estão ansiosas ou estressadas. Tristeza, tédio e frustração também podem afetar o comportamento alimentar. Algumas podem recorrer à comida como uma forma de lidar com as emoções, enquanto outras podem perder o apetite.
Outro ponto é a aversão a determinadas texturas de alimentos. É importante respeitar as preferências e limitações da criança, mas também encorajá-la a experimentar comidas novas e diferentes. Os pequenos são de fase, então um dia podem negar um legume, por exemplo, e no outro amar. Não desista de primeira.
A preocupação deve vir se a criança continuar recusando comida ou perder peso. Aí é hora de consultar um pediatra para descartar quaisquer problemas de saúde subjacentes. “Observe, pois os pequenos com um grau muito importante de seletividade alimentar, que recusam uma quantidade muito grande de alimentos, podem vir a apresentar deficiência de alguns nutrientes”, conta Samara.
O que fazer quando seu filho não quer comer?
Se a criança não quer comer, o primeiro passo e mais importante é abordar a situação com calma e paciência. Aqui estão algumas dicas que podem ajudar:
- Envolva a criança na preparação das refeições
Permita que a criança participe do dia a dia na cozinha, como misturar ingredientes ou escolher uma fruta para a sobremesa. Incentive-o a escolher alimentos saudáveis para as refeições. Isso vai gerar curiosidade no pequeno e pode até incentivá-lo a experimentar novos alimentos. Além disso, estimule a criança a se servir e se alimentar sozinha.
- Estabeleça horários regulares para as refeições
A rotina é importante para as crianças por diversos motivos, como, por exemplo, estabelecer senso de consistência e previsibilidade. Portanto, estabeleça horários fixos para as refeições principais e tente mantê-los todos os dias.
- Faça refeições em família
“As refeições devem ser feitas à mesa junto com outros membros da família, com conversa e olhando os outros comerem. Sem distrações como celulares, tablets ou televisão”, pontua a especialista. Crie um ambiente positivo em torno da comida. Nesse momento de interação, a criança sente acolhimento e copia os responsáveis – quer seguir o modelo e comer a mesma coisa que eles.
- Mostre uma variedade de alimentos
Oferecer uma variedade de alimentos nutritivos é importante para as crianças crescerem de forma saudável. Frutas, verduras, cereais integrais como os pães e gorduras saudáveis (abacate, nozes, azeite e salmão, por exemplo) são ótimas opções. Certifique-se de que a comida seja apropriada para a idade do seu filho e apresente de forma atraente.
- Não force a criança a comer
É importante respeitar a criança para evitar que ela se desenvolva com: ansiedade e estresse; aversão a alguns alimentos; e até perda de apetite e vontade de comer. Por isso, a dica é: não force o pequeno a experimentar. Promova um ambiente de tranquilidade.
- Brinque com as texturas
Quando a criança recusa muitos alimentos, tente oferecê-los com outras texturas ou diferentes combinações. Se ela não quer um alimento hoje, tente ofertá-lo em outros dias de formas diversas. É o que ensina a especialista. Aqui também vale preparar as refeições de forma diferente. Varie entre cozido, assado e grelhado, por exemplo.
- Hidratação
Evite refrigerantes ou bebidas açucaradas. “Controle a quantidade de líquidos ofertados para a criança durante as refeições e sempre prefira água ao invés de outros líquidos”, diz Samara.
- Fale com um pediatra
Consulte um médico para entender a necessidade do seu filho, se ele continuar recusando alimentos com frequência. Esse profissional irá avaliar a saúde e a nutrição da criança de forma individual. Isso é importante para saber se alguma vitamina adicional é necessária para o dia a dia daquele pequeno.
Por fim…
Além dos próprios desafios em relação ao comportamento alimentar, cada criança é única e pode ter necessidades alimentares específicas. Um exemplo é aquela que possui a doença celíaca, causada pela intolerância ao glúten, e precisa consumir produtos específicos, como pães sem glúten. Por isso, é importante consultar um pediatra ou um nutricionista para uma orientação mais personalizada.