O que é economia criativa? Entenda o conceito e como praticá-la!
A ideia deste texto é abordar um tema importante que nem sempre ouvimos falar. Porém, ao entender o que é economia criativa, você verá como é relevante saber tudo sobre o assunto. Vamos lá?
Conversamos com Lala Deheinzelin, considerada uma das 100 mulheres no mundo que estão co-criando a nova sociedade.
Futurista desde 1995 (uma das 3 top futuristas da América Latina e Central), ela é pioneira em Economia Criativa e Colaborativa e criadora da Fluxonomia 4D, ferramenta de gestão estratégica que combina Estudos de Futuro e Novas Economias. Ela escreveu o livro Desejável Mundo Novo e coordena o movimento internacional Crie Futuros.
Fique atento e veja tudo sobre esse tema com uma especialista no assunto.
Onde e como surgiu a economia criativa?
Esse termo foi usado pela primeira vez na Austrália, no início dos anos 1990, mas não com esse nome. Era chamada de Indústria Criativa – a ideia era que a Austrália poderia ser uma nação inovadora –, mas ela se desenvolveu de fato na metade dos anos 1990, no Reino Unido, quando Blair assumiu o governo como Primeiro Ministro e o país estava em uma crise total e não sabia por onde crescer.
Blair faz uma força multidisciplinar com ministros, lideranças, empresários, academia, etc, que tinham uma visão de Estado que perguntou: “como podemos crescer?”. Chegaram à conclusão de que a única saída para era por meio do patrimônio intangível do Reino Unido, ou seja, a partir de Beatles, The Rolling Stones, Shakespeare, enfim, a indústria criativa.
Desde então, isso virou uma política de Estado, de ação conjunta de todos os ministérios. Criaram toda a estrutura necessária e então a indústria criativa passou a ser a segunda maior economia do país.
Entenda o que é economia criativa
O conceito inicial era de indústria criativa, ou seja, tudo que está ligado às artes, serviços inovadores, como moda, design e arquitetura, e conteúdo como:
- publicação;
- vídeos;
- cinema;
- televisão.
Porém, isso se ampliou ao perceberem que fora os setores criativos havia um universo muito grande que tinha tudo a ver. Não apenas com as artes, mas com cultura como um todo, o que são coisas muito diferentes.
Para você entender o que é economia criativa, pense que as artes são um pedaço pequeno da cultura.
Cultura é um jeito de viver, o que caracteriza um lugar, uma comunidade, uma cidade, um território. Na sequência vem a ideia de cidades e territórios criativos.
A economia criativa é um conceito mais amplo que indústria ou cidades que usam a criatividade. Trata-se da percepção de que qualquer tipo de empreendimento vai ter o seu valor a partir de intangíveis.
Por exemplo, se você produz ovo, ele é indistinto, ele não tem um valor especial. Mas se fizer o ovo da galinha feliz, ele será desejado por esses atributos intangíveis. Há, portanto, duas questões fundamentais.
Primeiro, não é desenvolver a economia criativa, mas sim as cidades ou país, como foi o caso do Reino Unido ou da China. Essa é a única estratégia efetivamente sustentável que temos para o futuro.
Não é por meio de infraestrutura, como temos feito, mas a partir dos patrimônios intangíveis. É um conceito que se aplica a todos os setores além do artístico.
Está ligado a todo mundo que está interessado em gerar coisas que tenham valor a partir de criatividade, conhecimento, relações, experiências.
Economia criativa é toda e qualquer atividade que envolva criatividade?
Como o termo é bem amplo, começam a surgir muitas dúvidas e uma delas é bem comum. As artes e as linguagens artísticas são uma parte importante para entender o que é economia criativa e, na verdade, estão dentro das chamadas indústrias criativas.
Já que estamos falando de criatividade, você pode gostar de ver como essa artista faz arte com pão de forma.
Se fôssemos encaixar uma dentro da outra, teríamos uma bolinha (as artes) inserida dentro de outra bola (indústrias criativas) que, por sua vez, está inserida dentro da maior bola, a economia criativa.
Cultura é aquilo que tem a ver com mentalidade, então, por exemplo, o que fez que a gente ainda não adotasse, como país, a economia criativa de estratégia de desenvolvimento é uma questão cultural. Ainda valorizamos apenas o modelo baseado em tangíveis, dos séculos 19, 20, mas não é mais o do 21.
Apenas quando tivermos uma mudança cultural, vamos entrar no século 21 e deixar de ter uma economia insustentável, que foca em recursos materiais, como siderurgia e indústria automobilística (do século 20).
Quem pode aproveitar a economia criativa?
Segundo a especialista, as estratégias mais promissoras com as quais teve contato são aquelas relacionadas ao compartilhamento (que usa novas tecnologias para mapear o que já existe e promover o uso compartilhado) e também as feitas de forma colaborativa.
Por isso, agora ela chama seu trabalho de economia criativa e colaborativa.
Alguns exemplos práticos
Para explicar melhor o que é economia criativa e colaborativa, Lala Deheinzelin, diz que observou experiências em diversas escalas, desde micro e pequenas empresas até ações maiores, de desenvolvimento de políticas nacionais.
Em Seul, na Coreia, eles solucionaram muitos problemas por meio da economia compartilhada. Se há problema de estacionamento no centro da cidade, ao invés de construir mais garagens, você faz um sistema de uso das vazias de quem sai para trabalhar e não usa a sua.
O mesmo acontece com o uso compartilhado de espaços, ferramentas, meios de transporte, etc. Experiências mais promissoras são todas aquelas que estão na escala micro, local, onde cada território percebe qual é o seu “santo de casa” e que ele também pode fazer milagre.
Segundo a especialista, dá para ver que com o micro hoje é possível escalar e ter resultados macro porque as novas tecnologias permitem juntar um monte de experiências pequenas e conseguir um grande efeito. E isso é extremamente saudável, pois sabe-se que a saúde está na integração dos pequenos e diversos.
Não é por acaso que a maior parte dos empregos no Brasil e também fora daqui são gerados pelas pequenas e micro empresas.
Outro exemplo interessante é Medellín, na Colômbia, que passou de cidade mais violenta para a mais inovadora do mundo, investindo 40% do orçamento municipal em educação e cultura.
De que forma a sociedade pode se beneficiar com a Economia Criativa?
Após entender o que é economia criativa, vamos um pouco mais além. É preciso saber como ela pode ser vantajosa para todos e aproveitamos para perguntar isso a Deheinzelin.
Sustentabilidade
Ela é a grande questão agora e no futuro. Não tem como alcançar a sustentabilidade se não for a partir de uma nova economia baseada em recursos intangíveis, já que eles não se consomem com o uso, mas, sim, se multiplicam, além de serem abundantes.
Ressignificação de conceitos
Em segundo lugar, quando focamos nesses recursos, damos um novo significado para riqueza e pobreza. A especialista trabalhou em Moçambique, que é um país muito rico, pois tem muitos recursos naturais e diversidade cultural impressionantes, mas por outro lado não tem a parte de capital social como formas de organização, gestão e participação política. Logo, estes potenciais são desperdiçados.
Por outro lado, o Japão é um país muito pobre – pequeno, com desastres naturais, inverno rigoroso, não tem como cultivar comida para todos os habitantes, etc. –, mas está rico. Por quê?
Seus ativos intangíveis, como a colaboração, a gestão, a inteligência, o conhecimento, aproveitam muito bem aquilo que existe. Um dos maiores ganhos ao entender o que é economia criativa é que você muda essa relação riqueza/pobreza.
Modernização de processos
O terceiro ganho é que tudo isso só é possível quando é feito de forma sistêmica, com ações integradas e transdisciplinares. Quando começa a trabalhar com processos assim, tudo se moderniza e gera modelos muito mais interessantes porque são mais ligados ao que será o futuro, com um desenho mais adequado ao século 21.
E então, conseguiu entender o que é economia criativa e acha que ela pode ajudar no desenvolvimento do país? Você também pode gostar: dicas de economia doméstica.